#FAIL – O que aprendemos com casos como o Renault e o Brastemp

Será que todos os esforços de marketing para construção e manutenção da marca não são levados em consideração numa hora dessas?

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“Aprenda com os erros alheios. Não viverá o bastante para cometer todos os erros.” (Martin Vanbee)

“Os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros.” (Otto Von Bismarck)

“A habilidade de aprender mais rápido que seus concorrentes pode ser a única vantagem competitiva sustentável.” (Arie De Geus)

Eu poderia discorrer sobre as grandes teorias de administração e marketing, mas começo com estas frases. Por sinal, sentenças demais oportunas para o momento, você não acha? Vamos aos fatos.

Caso você não conheça o caso Brastemp, não há ninguém mais apropriado para lhe contar do que Oswaldo Boreli, no vídeo abaixo.

Solidários ao consumidor em questão, usuários das mídias sociais, como formiguinhas, disseminaram o vídeo e as mensagens de @oboreli. E não só replicaram as mensagens como endossaram com suas críticas e reclamações, as quais podem ser conferidas abaixo do referido vídeo e no próprio canal de vídeos do consumidor, somando cerca de 4.600 comentários.

Um dos maiores resultados é que a queixa foi parar nos Trending Topics mundiais do Twitter. Difícil uma marca conseguir, de maneira espontânea, essa façanha por parte de seus consumidores, não?

A Brastemp resolveu o caso, como você pode conferir no comunicado oficial da empresa, do qual destaco duas partes:

“A satisfação dos nossos consumidores é nossa principal motivação. Cada um dos donos das dezenas de milhões de produtos que temos no mercado é, para nós, um cliente especial, que deve ser tratado de maneira individual.”

Perceba como na frase acima a Brastemp parece admitir que as empresas podem atender milhões de clientes bem, mas se não atenderem da maneira certa apenas um (“individual”), o resultado pode ser um movimento como o que o consumidor Boreli incitou, com consequências imensuráveis.

“Para o consumidor, o problema está resolvido. Para nós, ele é parte de um aprendizado, que transformaremos em ações de melhoria nos nossos processos de atendimento, nos ajudando a eliminar casos como esse.”

Aqui entra o aprendizado que sua empresa deve se esforçar para ter com os erros das outras, dando a devida atenção em todas – eu disse todas – as fases da relação empresa x cliente.

Pode ser um caso isolado, mas muitos consumidores ficaram com o pé atrás com a Brastemp. E acredito que ficarão por um bom tempo, por mais que em suas relações com a empresa não passem por problemas. Isso se chama insegurança, descrédito, desconfiança. De outro lado, está a reputação, que se levam anos para construir e questão de horas para desmoronar. Certamente, o custo de uma geladeira não valeu os milhões gastos com marketing e comunicação para construir e manter a marca.

Veja agora o vídeo do caso Renault:

A cliente fez vídeos e até criou um site (meucarrofalha.com.br) e foi rapidamente parar nas mídias sociais, alastrando-se como rastilho de pólvora.

Depois de já ter feito muito barulho na web e caído nas páginas de publicações impressas e online, a Renault obteve liminar que obrigava a cliente a retirar do ar em 48 horas as denúncias feitas em seus perfis de Twitter, YouTube, Facebook e Orkut e a exibição pública do carro. Daniely informou que retiraria o conteúdo à meia-noite de terça-feira, 15/03, o que, pelo visto, não aconteceu.

Aí voltamos à pergunta: será que todos os esforços de marketing para construção e manutenção da marca não são levados em consideração numa hora dessas? Afinal, o que é o custo de um carro, ou o custo do conserto de fato, diante de tamanho investimento?

E o trabalho de comunicação e relações públicas? Tendo uma atitude de permanecer no erro e de retaliação não é mais prejudicial ainda para a Renault?

“É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe.” (Epiteto)

A frase que você acaba de ler parece simbolizar o que muitas empresas pensam. Elas pensam que já sabem atender bem os clientes, ou acham que os clientes, com o pouco oferecido, já estão satisfeitos, e não se preocupam em acompanhar de perto e melhorar os processos de atendimento, especialmente os terceirizados, entre tantas outras negligências na pós-venda.

A solução de problemas com os consumidores deve estar na ordem do dia. Boreli fez escola, e meu receio é que esse tipo de reclamação escancarada vire algo tão corriqueiro que passe a ser encarado como natural pelos outros consumidores e que nem entre mais na preocupação das empresas quanto às suas imagens e reputações. Será?

Profissionais, empresas e acadêmicos têm à disposição dois casos que são prato cheio para discutir e não incorrer em algo parecido. Os consumidores agradecem.

O que você tem feito para ajudar sua empresa a não passar por esses apuros? Sua empresa tem aprendido com os erros alheios? E com os próprios erros?

 

Bônus:

Um caso ainda morno e que também pode ajudar sua empresa a não virar um fracasso nas redes sociais é o que envolveu a empresa aérea Gol e o cãozinho Pinpoo.

E o da United Airlines, já conhece? É um dos mais emblemáticos.

Quer saber mais sobre o consumidor atuante, proativo, que produz conteúdo e arrebanha milhões com suas reclamações? Então, leia o artigo “A Propaganda NÃO é a alma do negócio” – por Pedro Cordier.


ATUALIZAÇÃO em 23/03/2011:

Renault faz acordo com consumidora de “Meu Carro Falha”

De acordo com comunicado de Daniely, na íntegra abaixo, a consumidora explica como se deu o desfecho do caso. Que as lições tenham servido para algo de melhor.

“Prezados seguidores, informo que negociamos, compomos e concretizamos um acordo no qual a Renault comprometeu-se em ressarcir os valores pagos pelo veículo bem como meus danos, tendo sido extintas todas as ações judiciais, de parte a parte, tanto no que toca ao meu pedido de indenização a Renault, quanto à ação que esta moveu contra mim por danos morais.

Em agradecimento ao apoio de vocês de todo o Brasil, que resultou em mais de 700 000 acessos ao site www.meucarrofalha.com.br, incluí no acordo, um automóvel Clio 0km para doação a uma entidade assistencial de alcance nacional.

O referido veículo será doado nos próximos dias a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

Gostaria que cada um de vocês recebesse o meu mais sincero agradecimento, pelo apoio e as manifestações recebidas pelas redes sociais. Espero ter contribuído com um bom exemplo de defesa do meu direito de consumidora e de persistência. Um forte abraço a todos.”

Newton Alexandria
Quem escreve:

Oi! Eu sou o Newton Alexandria. Uni minha formação em Marketing e a experiência com Comunicação e escrita e fundei a Dr. Conteúdo. Hoje, escrevo minha vida e outras histórias... Gosto de gente, de cachorros, de viagens e de uma boa MPB. Fique à vontade para me escrever: new@drconteudo.com.br.
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  • http://www.facebook.com/people/Alex-Camillo/688687376 Alex Camillo

    O receio de virar algo corriqueiro eu também tenho, mas acredito na força das redes sociais, principalmente o twitter. A pessoa que se dá ao trabalho de criar um site, um perfil para reclamar de algum produto/empresa merece ser ouvida!

    • http://flavors.me/newtonalexandria#_ Newton Alexandria

      Verdade, Alex. Pertinente observação. Aliás, o que foi o custo do site que a "cliente" da Renault fez, diante do prejuízo, não é mesmo?

      Obrigado por participar!
      Um abraço,
      Newton

  • Oswaldo L.Borrelli

    O meu caso e o da Daniely são ações extremas, de consumidores que não conseguiram resolver seus problemas com as empresas pelas vias convencionais. E as Redes Sociais estão à disposição, para, imediatamente, propagar os desabafos daqueles que esgotaram as vias normais, como os SACs, em busca de solução.
    Nesses dois casos temos posturas diferentes das empresas, que merecem uma reflexão. Enquanto uma aceita sua falha, reconhece seu erro e resolve o problema com o consumidor, a outra vai a justiça para calar a consumidora,alegando prejuízo a marca, posição, a meu ver, inadmissível nos dias de hoje, onde temos plena liberdade de expressão.
    Está na hora das empresas reverem as formas como se relacionam com seus clientes, pois cada vez mais nós ficamos mais exigentes e vamos em busca das empresas que nos atendam bem e respeitem os nossos direitos de consumidor.

    • http://atilavelo.com.br/ atilaVELO

      Falou tudo, Boreli! Apesar de ter deixado a situação se agravar bastante, a Brastemp assumiu uma postura de reconhecimento do erro e busca por melhoria. Já a Renault está colocando a corda no pescoço de sua marca ao reprimir a consumidora insatisfeita, mal atendida. Muito obrigado por sua participação e também por ser um exemplo de consumidor que não aceita ser ignorado – e que usa, com eficiência, os meios digitais para manifestar seus direitos.

      Um grande abraço,
      Atila

    • http://flavors.me/newtonalexandria#_ Newton Alexandria

      Boreli,

      Acredito que ninguém melhor do que você para ponderar e ajudar-nos a refletir sobre essa questão.
      Realmente os clientes não fazem isso de trazer para as redes sociais seus problemas com as marcas por hobby. Esses casos, como você mesmo passou e sentiu, ocorrem quando a situação já é insuportável e quando já se recorreu a todas as formas para tentar a resolução.
      As atitudes divergentes de Renault e Brastemp para casos que guardam similaridades refletem a maneira de gestores conduzirem e resolverem ou arrastarem uma situação trazendo muito mais buzz negativo e prejuízos aos valores da marca e à sua percepção e reputação com os consumidores.
      Os tempos são outros, as mídias são do povo. A Renault faz-nos lembrar da velha frase que diz: "Não são os mais fortes que sobrevivem, nem os mais inteligentes. São os mais adaptáveis às mudanças." É preciso absorver as mudanças e unir-se a essa força descomunal da união das pessoas pela internet para favorecer as marcas, e não para ajudar a destruí-las.

      Obrigado pela sua colaboração e visita.
      Um abraço,
      @New_Alexandria

  • Hélio

    também temos o caso do Não Conte Comigo do twitter.com/naocontecomigo

    • http://flavors.me/newtonalexandria#_ Newton Alexandria

      Opa! Valeu pelo apontamento, Hélio. Já fica para consulta! :)

      Um abraço,
      Newton

  • http://twitter.com/PedroCordier @PedroCordier

    Oi, Newton! Quero agradecer por recomendar o texto “A Propaganda NÃO é a alma do negócio” no final do seu post! Com tantas mudanças acontecendo, esse é um momento MUITO BOM para TODOS AQUELES (sejam consumidores, prosumidores, empresas "offline", empresas "digitais", sites…) QUE ESTIVEREM DISPOSTOS a OUVIR, buscar a TRANSPARÊNCIA, desenvolver RELACIONAMENTOS VERDADEIROS e, acima de tudo, APRENDER! forte abraço! Pedro Cordier.

    • Newton Alexandria

      Valeu, Pedro! Achamos conveniente e oportuno citar teu texto, que expõe bem a necessidade de empresas estarem alertas diante desse novo consumidor muito mais ciente das armas que tem a seu favor.

      Um abraço,

      Newton

  • Pingback: Neste Dia da Mentira, não minta para seus clientes | Dr. Conteúdo | Produção de conteúdo, Webwriting, Revisão de Textos()

  • bibliolog

    São cases como esses que nos ensinam a entender o consumidor como uma engrenagem a mais no processo de relacionamento.
    A partir de ferramentas novas o cliente aponta velhos problemas, situações que ficavam ocultas e em poucos casos resolvidos.
    O meio de se comunicar mudou nos últimos anos, hoje muitos consumidores são e estão mais virtuais, estágio esse que muitas empresas ainda não atingiram quando o assunto é o relacionamento.
    É como ter uma bicicleta nova, saber o tudo que se pode fazer com ela e esquecer o básico, pedalar.
    A matéria está excelente, nela tem lições para a empresa saber onde está e como se situar e para o consumidor saber como atuar e como solicitar quando seus direitos param em alguma barreira.
    A nova ordem é se comunicar, se relacionar.
    Um cliente satisfeito indica, recomenda e volta.
    O insatisfeito faz o oposto.
    E a pergunta nem precisa ser feita. As empresas sabem com quem querem trabalhar.

  • Pingback: Não minta para seus clientes. Evite crises! | Dr. Conteúdo | Produção de conteúdo, Webwriting, Revisão de Textos()

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  • Oswaldo Borrelli

    As empresas tem que mudar a forma de se relacionar com os seus clientes. É preciso uma atenção especial no pós-venda, principalmente com o advento das redes sociais. Na minha opinião, até então as empresas ganhavam muito criando dificuldades para atender as reclamações dos seus clientes. Imaginem vocês se um consumidor que tem um celular pré-pago, a empresa em que trabalha não o deixa usar o telefone no horário do expediente. Criando dificuldades no atendimento, esse consumidor desiste de reclamar. Já aquele que tem condições e pode perder horas num telefone, obtendo sempre aquelas respostas que não resolvem nada dos SACs desistem de reclamar, e com isso as empresas levavam vantagem. Mas agora, com a facilidade e repercussão das redes sociais, eles têm que rever suas politicas de atendimento ao consumidor, sob pena de acontecer o efeito Brastemp em sua marca.
    Boreli

  • http://www.magicoolbox.com vivianevivis

    Muitas empresas morrem de medo de serem citadas negativamente nas redes sociais. Bons exemplos são a Net, a Vivo e a UolHost. Cada vez que são citadas por causa de problemas mandam o mais rapidamente possível uma respostas, pedem para conversar por DM.
    Realmente o consumidor brasileiro tem que aprender a reclamar e as empresas a nos respeitar.

    • http://drconteudo.com.br/ Dr. Conteúdo

      É verdade, Viviane! Eu mesmo já tive essa experiência com o UolHost.
      Obrigado por participar!
      Newton Alexandria

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